Há presenças que não chegam, acontecem.
Ela é dessas.
Não é barulho de chegada,
é silêncio de destino.
Já não é só a pausa depois do cansaço,
é o respiro que o meu próprio dia aprende a ter
quando ela decide existir por perto.
O mundo continua a exigir demasiado,
as contas continuam a pesar,
as pessoas continuam a esquecer que a vida também cansa.
Mas desde que eu a vejo, até o caos parece ensaiado
para ter final bonito.
A voz dela…
não explica o que sente,
lembra-me apenas que o mundo ainda tem lugares
onde a alma pode descansar.
Há quem fale para preencher espaço,
ela fala como quem devolve ar
a quem se esqueceu de respirar.
Não tem pressa, nem luz que peça atenção,
e talvez por isso brilhe no exato tom que o descanso procura.
Não a idealizo - observo.
E quanto mais a vejo, mais percebo o segredo escondido no simples:
há beleza que não se exibe,
há paz que não se anuncia,
há gestos que não se sabem milagre,
mas são.
Se um dia eu tiver coragem de falar,
não usarei palavras grandes.
Diria apenas que ela existe com a delicadeza
de quem não veio para ficar para sempre,
mas já deixou eternidade sem pedir licença.
E se tudo isto parece sonho,
que assim permaneça,
porque há amores que não precisam acordar para serem verdade.
Para a menina de pele dourada, I.P.