Kaiii

Um Amigo Diferente

  Ele chegou do nada, mas eu me sentia como se ele sempre estivesse lá.

 Me ajudou a me olhar no espelho sem tristeza e arrependimento. Fez eu ser mais feliz com a minha própria companhia.

  E viveu cada segundo comigo.

  Foi uma das primeiras “pessoas” em quem realmente confiei — até porque ele era uma imagem mais bela de mim mesmo.

  Ele não falava muito, mas sempre estava lá, me observando e acenando com a cabeça.

  Às vezes escrevia e desenhava comigo — mas era raro — e, quando fazia isso, eram sempre desenhos de pessoas com sorrisos largos no rosto.

  Nunca falei muito sobre ele.

  Quando eu mencionava, diziam que eu era meio doido, mas nunca entendi o motivo.

  Eu não sabia seu nome, mas resolvi chamá-lo de Luca.

  Combinava com ele: um garoto quieto, mas com a cabeça cheia de pensamentos e descobertas novas.

  Uma vez comentei com minha mãe sobre o Luca e, de repente, ela ficou séria, como se eu tivesse falado algo horrível, algo que nunca havia passado pela cabeça dela.

  Depois de um tempo, apenas sorriu e me pediu para parar de inventar histórias.

  Fiquei confuso, mas não falei mais nada.

  Até porque Luca era como eu: não se sentia bem como era e desejava viver em outro corpo.

 Mas, ao mesmo tempo, com ele eu conseguia enxergar minhas qualidades,o quão perfeito eu era.

 Eu sentia que ele me entendia, que éramos parecidos.

 Mas um dia, simplesmente, ele desapareceu.

  Não consegui encontrá-lo em lugar nenhum. Chamei-o incontáveis vezes, mas ele nunca respondia.

  Senti medo pela falta de resposta, abandono por ele ter ido embora sem ao menos se despedir.

  Ele se foi com meus desenhos coloridos, minha felicidade, meus dias calmos.

  Assim como apareceu sem dizer um “oi”, foi embora sem dizer um “adeus”.

  Fiquei triste. Uma tristeza que ninguém entendia, uma tristeza que partiu meu coração.

  Uma dor que eu não suportava mais sentir.

  Quando eu falava sobre isso, me diziam apenas que eu não deveria acreditar em tudo o que via ou ouvia.

  Mas, depois de noites em claro, finalmente percebi: ele não era uma pessoa.

  Também não era uma criatura ruim.

  Ele era apenas uma parte de mim, um eu diferente, novo e cheio de cores brilhantes.

  Então, decidi chamá-lo apenas de amigo.

  Um amigo verdadeiro, alegre, diferente e até um pouco imaginário.

  Ele foi como um arco-íris na minha infância nebulosa: uma resposta para as minhas dúvidas, uma luz que encontrei.

  Foi graças a ele que decidi descobrir mais sobre o mundo e sobre eu mesmo.

 

Kai :)