Eu era teu amigo nas noites escuras, te abraçava apertado, sentia teu medo. Enquanto o vento rugia lá fora, te guardava, menino, em cada segredo.
Mas tu cresceste, deixaste o menino para trás, tornaste-te homem, desbravaste o mundo, riste com estranhos, conheceste novas histórias, e eu fiquei, pano gasto e silêncio, perguntando ao vento que passa: — Ainda guardas algo de mim no teu peito?
Sinto teu cheiro nas bordas do quarto, ouço teus passos que não voltam mais. As paredes lembram teu riso pequeno, os fiapos do tempo ainda carregam teu calor.
Mesmo esquecido, ainda sou teu, eco do menino
que um dia fui teu amigo.
Mas o dia que precisaste de mim, não me levaste de volta para ti. Entregaste-me a outro, teu pequenino filho, e eu encontrei um novo abraço, um novo riso, um novo coração para guardar.
Para você, meu menino de ontem, para ele, meu pequenino amigo de hoje.
— richas