Você era minha fuga preferida —
um entorpecente disfarçado de abraço.
Tinha o gosto doce de quem promete o caos
e o perfume amargo das noites que a gente não dorme.
Ria das minhas verdades
como quem sopra bolhas de sabão em cima de ruínas.
E eu ria também,
porque amar você era brincar de roleta-russa com o coração.
Na cama, a gente era fogo e ironia.
Se mordia, se perdoava, se desafiava.
Você dizia: “me ama, mas devagar.”
E eu respondia: “não sei andar onde o chão é seguro.”
Nosso amor tinha trilha sonora em volume insano,
cheiro de álcool e de urgência.
Deixava arranhões na pele e na alma,
como se amar fosse um esporte de risco.
A gente nunca soube se se amava ou se se vingava.
Entre beijos, copos estilhaçados e promessas bêbadas,
descobri que a diversão mais intensa
é a que deixa cicatriz quando vai embora.
Hoje, coleciono calmarias,
mas nenhuma tem o gosto elétrico do seu perigo.
Você foi meu vício mais bonito,
meu crime consentido,
meu naufrágio favorito.
E se o amor fosse uma canção de Cazuza,
você seria o refrão —
cheio de excesso,
cheio de fim.