victoremmanuel

O sol e o mar

Sou o sol que deságua em leitos fúnebres,
Na água fria que endurece os cobres.
Sou daqueles que amolecem duros metais;
Sou daqueles que brilham — e podem ser letais.

Nas profundezas, ao sol, a água clama:
“Piedade! Livrai-me da dor da tua chama.”
Mas o sangue dos tubarões não teme o ardor,
Nem o desafio de uma natureza sem fulgor.

Enquanto encaro o sofrer dos que queimam ao fogo,
Recito a mim mesmo fragmentos de um velho rogo:
“Quem está no fogo, há de se queimar.”
E lanço-me ao léu — tubarão que não sabe temer o mar.

Não sou sucinto; sigo firme no que fui feito.
Me esbanjo, e ergo sempre o meu largo peito.
Sou o peixe tonto que torra em água fervente,
Sou o sol que aquece o teu mar, presente em tua mente.

Sou teu eterno amor, que repousa em um oceano pouco caliente.