Alex Santidarko
Tema o verme que herdará o seu carnal palácio,pois somos meros corpos feitos de pó e de espanto.Tudo é teatro de sombras e vaidade.
Assim seguimos, com este antigo medo
Gravado no osso, esta canção fúnebre,
Até que o pálido véu seja descido,
E a cortina se feche, negra e tenebrosa.
E o palco, vazio, aguarde, mudo e frio,
O próximo ator, que, em seu delírio vão,
Repetirá o mesmo verso, o mesmo grito,
Sob a lua de opiório e solidão.
Tema,Tema o verme que herdará o seu palácio carnal,--seu adorado e estimado corpo;
...O tempo consome qualquer estimada estátua e sua inquisidora sombra.
O eco de uma culpa que não se apaga.
Tema,sobretudo, o próprio coração,
Esse íntimo demônio, esse mar sem fundo,
Cujas tempestades, em negra rotação,
Engolem o sol e o farol do mundo.
Oh, almas feitas de pó e de espanto,
Que navegais nesse frágil barco à deriva,
Entre o Céu mudo e o silêncio tanto,
Há só uma verdade que é positiva:
Tudo é teatro de sombras e vaidade,
Um sonho febril na mente de um deus louco,
Onde a única e derradeira certeza
É o frio toque do esquecimento no rosto.
...E assim rasteja o homem, entre estas duas
Potências cegas, com o peito aberto,
Acolhendo horrores, dores tão agudas,
Num mundo por demais vasto e incerto.
Tema o fantasma do que ainda não viveu,
A traição que no olhar do amigo mora,
O passo em falso que o Abismo teceu
Na escada da ambição, à própria hora.
By Santidarko