A dor é aquele professor chato que ninguém pediu,
mas que insiste em dar aula no meio do meu domingo.
Chega sem aviso, ocupa a primeira fila do peito
e fala alto demais sobre lições que eu não queria aprender.
Se ela fosse pessoa, eu já teria bloqueado,
ou, no mínimo, silenciado as notificações da alma.
Mas ela é persistente — e, confesso, didática.
Sabe apontar os erros com uma precisão quase carinhosa.
Às vezes me ensina mais do que a alegria,
essa aluna distraída que sempre falta nas segundas-feiras.
A dor não — ela comparece, faz chamada,
me obriga a revisar o que esqueci de sentir.
E no final da aula, quando o quadro do coração está cheio,
ela ainda deixa um dever de casa:
“Aprenda a rir de si mesma, menina.”
Foi aí que descobri o valor de um analgésico emocional
e de um bom brigadeiro na hora certa —
porque filosofia nenhuma supera o chocolate quente
que a gente derrete quando o mundo esfria demais.
E entre uma colherada e outra, eu percebo:
talvez a dor não seja inimiga,
só uma professora mal compreendida,
com um senso de humor… peculiar.
Mas eficaz,
como toda verdade que dói —
e depois adoça.