Luana Santahelena

Aula PrĂ¡tica de Sentir

A dor é aquele professor chato que ninguém pediu,

mas que insiste em dar aula no meio do meu domingo.

Chega sem aviso, ocupa a primeira fila do peito

e fala alto demais sobre lições que eu não queria aprender.

 

Se ela fosse pessoa, eu já teria bloqueado,

ou, no mínimo, silenciado as notificações da alma.

Mas ela é persistente — e, confesso, didática.

Sabe apontar os erros com uma precisão quase carinhosa.

 

Às vezes me ensina mais do que a alegria,

essa aluna distraída que sempre falta nas segundas-feiras.

A dor não — ela comparece, faz chamada,

me obriga a revisar o que esqueci de sentir.

 

E no final da aula, quando o quadro do coração está cheio,

ela ainda deixa um dever de casa:

“Aprenda a rir de si mesma, menina.”

 

Foi aí que descobri o valor de um analgésico emocional

e de um bom brigadeiro na hora certa —

porque filosofia nenhuma supera o chocolate quente

que a gente derrete quando o mundo esfria demais.

 

E entre uma colherada e outra, eu percebo:

talvez a dor não seja inimiga,

só uma professora mal compreendida,

com um senso de humor… peculiar.

 

Mas eficaz,

como toda verdade que dói —

e depois adoça.