Brunna Keila

Aprender a Se Amar.

As pessoas rezam para que Deus as abençoe, oferecendo um amor que dure a vida toda.

Mas quase nunca pedem a Ele que as ajude a se amar.

Percebi isso ao ler os livros de Rubem Alves.

 

Os adultos acham que sabem mais do que as crianças, por isso ensinam.

Os adultos querem avançar, progredir. Já os poetas entendem que a alma não deseja seguir adiante; ela é movida pela saudade. E ela não quer ir para frente, quer voltar para trás. Os adultos fogem da loucura da vida adulta.

 

Falam tanto sobre os adolescentes estarem à “flor da pele”, por levar como ofensa as palavras da mãe e do pai, que esquecem de ensiná-los a ser felizes. Esquecem que o remédio para a alma cansada não é o esquecimento.

 

Se ainda não entendeu, eu explico com calma.

 

Os adultos querem que os filhos sigam aquele velho ditado: “os filhos se espelham nos pais” e, com o tempo, se tornem adultos como eles.

Os adultos desejam sucesso, riqueza, status, roupas caras, carros do ano, celulares de última geração.

Os adolescentes, sejam tristes ou revoltados com a vida, pedem apenas uma coisa aos pais: que os escutem em silêncio. Não buscam remédios para tratar distúrbios mentais, depressão ou ansiedade; eles só precisam de escuta.

 

Os adultos muitas vezes idolatraram o dinheiro e as coisas materiais. Eu, como poeta, peço apenas uma coisa: que me devolvam tudo aquilo que me tiraram, chamado saudade.

 

Somos tudo aquilo que vemos.

Se você vê o mundo colorido, aprende a encará-lo com resiliência e percebe o lado bom da vida.

Se, como eu, você vê o mundo em preto e branco, percebe nuances que quase ninguém nota.

 

Voltando ao início: nunca vi nenhum religioso pedindo a Deus que o ajude a se amar. Às vezes, o que os adultos precisam não é ostentação, dinheiro, joias ou luxo, mas silêncio. Silêncio para escutar o que vem de dentro e, assim, compreender os adolescentes.

Os adultos são convencidos. Lembram que crianças e adolescentes não têm contas para pagar e concluem que não podem sofrer. Mas nunca pensam que a dor deles é verdadeira, causada pela ausência de uma vida adulta que os compreenda.

 

Assim como os mais velhos. Alguns caíram no esquecimento. Às vezes penso: foram tão difíceis ao longo da vida que todos os abandonaram? Ou será que os adultos são apenas ingratos?

Os velhinhos às vezes se parecem com crianças: veem o mundo de forma divertida, coerente e colorida. Não como os adultos, que falam muito e escutam pouco.

 

Eu, como poeta, devo dizer:

 

Vocês, adultos, fogem da loucura porque temem o presente. Se preocupam demais com coisas superficiais. Vocês não precisam de dinheiro em excesso; precisam de silêncio e escuta em abundância. E, a partir disso, amar ao próximo, e finalmente amar-se.