É como um vento que vem de mansinho,
Trazendo memórias no mesmo caminho.
O cheiro da tarde, o som do quintal,
O riso guardado num tempo ideal.
Há cores antigas nas lembranças minhas,
Fotografias presas nas entrelinhas.
O ontem repousa num canto do ser,
E dói de um jeito bonito de ver.
Reviver seria profanar o encanto,
Reescrever o passado com outro manto.
Pois há tempos que vivem só no olhar,
E ao tocá-los, deixam de brilhar.
A saudade é ponte que nunca termina,
Ligando o agora à velha menina.
Não quero voltar — deixo lá, contente,
O que já foi sonho, segue presente.
Que fique o perfume, a voz, a ternura,
Mas não a ilusão de reviver a doçura.
Porque há instantes, por mais que perdurem,
Que só são eternos se não se procurem.