Alexxandre Martins

MINHA DROGA É O AMOR

A mensagem não chega.

O celular vibra, mas não é ela.

E o corpo inteiro entra em colapso.

O coração dispara como se fosse infarto.

O peito dói.

O ar falta.

E a mente sussurra:

\"Talvez ela nunca mais volte.\"

Mas você quer que volte.

Quer ver o nome dela na tela,

mesmo que venha pra te ferir.

Mesmo que venha pra te usar, mentir, manipular.

Você só quer sentir alguma coisa.

Qualquer coisa.

Porque o silêncio dela dói mais que o próprio inferno.

Você sabe quem ela é.

Sabe o que ela te fez.

Sabe o quanto te matou aos poucos.

Mas ainda quer.

Quer o toque, o olhar, o veneno.

Quer a dose que te destrói, porque viver sem ela

parece pior.

Isso não é amor.

É abstinência.

É vício.

É a alma pedindo pela droga que a está matando.

Aquela mistura de prazer e morte que te faz esquecer quem você é.

Você sabe do perigo, mas o corpo implora.

A mente grita pra fugir, mas o coração rasteja pedindo migalhas.

Você vê seus amigos em relacionamentos calmos, com amor que parece leve, simples, tranquilo. E você inveja isso porque o que você chama de amor é guerra. E mesmo assim, você quer. Quer o caos, o descontrole, a febre.

Quer a mulher que te destrói, porque aprendeu a confundir dor com presença.

Aceitar qualquer coisa pra não ficar sozinho é o caminho mais rápido pra se perder de novo. E você sabe disso. Sabe, mas não consegue parar. Porque toda dependência é uma forma de cegueira.

Ela é a droga, e você é o corpo em abstinência.

Você treme, sua, chora, relembra cada toque como se fosse morfina.

E mesmo sabendo que vai te matar, você implora por mais uma dose.

Ela volta.

E no início, tudo parece cura.

O abraço é remédio, o beijo é calmante, a presença dela silencia o caos por um instante.

Mas logo a euforia vira enjoo,

a calmaria vira medo,

e o vício recomeça.

Você diz que é amor.

Mas amor não queima assim.

Amor não adoece o corpo.

Amor não faz perder o sono, o apetite, a dignidade.

O nome disso é dependência.

É a alma presa numa substância viva.

Um ser humano travestido de dose fatal.

E no fundo, você sabe.

Sabe que essa droga não te dá prazer te dá prisão.

Sabe que não é paixão, é desespero.

Sabe que ela não é amor, é ausência com perfume.

Mas ainda quer.

Quer, porque é humana.

Quer, porque o vazio assusta.

Quer, porque aprender a ficar só é a pior parte da cura.

Até o dia em que o corpo não aguenta mais.

Até o dia em que a alma escolhe respirar.

E nesse dia

ele não quer mais ela, nem a mensagem, nem a dose.

Ele quer paz.

E a paz, amor, nunca vem de quem te envenena.