A mensagem não chega.
O celular vibra, mas não é ela.
E o corpo inteiro entra em colapso.
O coração dispara como se fosse infarto.
O peito dói.
O ar falta.
E a mente sussurra:
\"Talvez ela nunca mais volte.\"
Mas você quer que volte.
Quer ver o nome dela na tela,
mesmo que venha pra te ferir.
Mesmo que venha pra te usar, mentir, manipular.
Você só quer sentir alguma coisa.
Qualquer coisa.
Porque o silêncio dela dói mais que o próprio inferno.
Você sabe quem ela é.
Sabe o que ela te fez.
Sabe o quanto te matou aos poucos.
Mas ainda quer.
Quer o toque, o olhar, o veneno.
Quer a dose que te destrói, porque viver sem ela
parece pior.
Isso não é amor.
É abstinência.
É vício.
É a alma pedindo pela droga que a está matando.
Aquela mistura de prazer e morte que te faz esquecer quem você é.
Você sabe do perigo, mas o corpo implora.
A mente grita pra fugir, mas o coração rasteja pedindo migalhas.
Você vê seus amigos em relacionamentos calmos, com amor que parece leve, simples, tranquilo. E você inveja isso porque o que você chama de amor é guerra. E mesmo assim, você quer. Quer o caos, o descontrole, a febre.
Quer a mulher que te destrói, porque aprendeu a confundir dor com presença.
Aceitar qualquer coisa pra não ficar sozinho é o caminho mais rápido pra se perder de novo. E você sabe disso. Sabe, mas não consegue parar. Porque toda dependência é uma forma de cegueira.
Ela é a droga, e você é o corpo em abstinência.
Você treme, sua, chora, relembra cada toque como se fosse morfina.
E mesmo sabendo que vai te matar, você implora por mais uma dose.
Ela volta.
E no início, tudo parece cura.
O abraço é remédio, o beijo é calmante, a presença dela silencia o caos por um instante.
Mas logo a euforia vira enjoo,
a calmaria vira medo,
e o vício recomeça.
Você diz que é amor.
Mas amor não queima assim.
Amor não adoece o corpo.
Amor não faz perder o sono, o apetite, a dignidade.
O nome disso é dependência.
É a alma presa numa substância viva.
Um ser humano travestido de dose fatal.
E no fundo, você sabe.
Sabe que essa droga não te dá prazer te dá prisão.
Sabe que não é paixão, é desespero.
Sabe que ela não é amor, é ausência com perfume.
Mas ainda quer.
Quer, porque é humana.
Quer, porque o vazio assusta.
Quer, porque aprender a ficar só é a pior parte da cura.
Até o dia em que o corpo não aguenta mais.
Até o dia em que a alma escolhe respirar.
E nesse dia
ele não quer mais ela, nem a mensagem, nem a dose.
Ele quer paz.
E a paz, amor, nunca vem de quem te envenena.