Há dias em que o peso do tempo
me esmaga o peito em silêncio,
como se o ar fosse um muro
e respirar, um castigo antigo.
Carrego nas costas lembranças
de quem já não posso tocar.
Rostos que a saudade apaga devagar,
mas que o coração insiste em pintar.
E eu canso…
Canso dessa estrada que repete passos,
desse sol que nasce sem razão,
desse corpo que anda,
mas já não quer ir.
Penso, às vezes, em partir —
num suspiro que apaga tudo,
num fim que me poupe do grito mudo.
Mas aí lembro dos olhos que me amaram,
dos risos que um dia me buscaram,
e o medo de deixá-los me amarra,
feito raiz presa em terra fria.
Então sigo — por amor, por costume,
ou talvez por covardia.
Sigo, cansado,
mas vivo,
num fio fino de melancolia.