SADE

“Silêncio no espelho”

“Silêncio no espelho”

Há dias em que respiro
como quem engole gelo,
em que o ar pesa mais
do que o corpo aguenta.

O mundo fala alto,
mas dentro é só ruído mudo,
um eco de mim mesmo
que se perdeu no escuro.

O teto me observa,
as paredes me apertam,
e até o relógio parece rir
da lentidão da minha alma.

Não quero morrer —
quero apenas parar
essa tempestade sem vento,
esse vazio que grita.

Meu peito é um quarto fechado,
onde o sol esqueceu o caminho,
e a esperança dorme
com medo de acordar.

Mas ainda assim,
há uma faísca pequena —
uma lembrança qualquer,
um nome, um olhar, um som —
que me impede de sumir.

Talvez seja isso a vida:
seguir mesmo sem querer,
esperando que um dia
o frio desista de ficar.