- Me escrevestes em versos
Como se eu fosse poesia.
Virei até soneto...
Mas sabes...
Nunca me importei com as rimas e com as regras.
Ainda sim,
Tornei-me melodia.
Alguma vez me recitaste de verdade?
Não com a boca,
mas com a alma.
Eu sabia...
havia virgulas demais em mim,
Pausas que você nunca quis ouvir.
Fui pra ti aplausos,
Ecos em paginas preenchidas,
Tua escrita formosa
Cheia de palavras difíceis
Que não diziam nada de mim.
Você ao menos olhou pros pássaros
Quando me escreveu?
Sentiste o peso da liberdade
Que tanto me falta?
Teu corpo tremeu
Quando os meus demônios rugiram?
Quando meus olhos se fizeram noite sem estrelas?
Sabes o que é poesia para mim?
Não é o verso que se encaixa,
Nem o fim que soa perfeito.
é o abismo entre uma palavra e outra,
onde mora o que se não pode dizer.
Poesia pra mim
é o voo que o pássaro sonha
mesmo depois de cair.
- Eu te escrevi em versos
Não porque fosses poesia,
mas porque eras dor demais
para caber em mim.
Te vesti de metáforas
pra que o mundo não notasse
o quanto sangravas
E chamei isso de arte
pra disfarçar o amor.
Não reparei os pássaros
Pois quando olhei o céu - vazio,
Só sabia pensar que você poderia
voar para onde eu nunca alcancei.
Quando teus demônios rugiram,
tremi, sim.
Mas, calei-me
Porque o poeta não sabe lutar -
Só escreve.
E é por isso que o verso existe:
Pra segurar o que o corpo não aguenta.
Quando teus olhos se fizeram noite,
tentei acender as estrelas com palavras.
Mas agora entendo o que é poesia pra ti -
não é o poema,
nem o som do aplauso.
é o espaço entre nós
onde mora o que ficou por dizer.
E se um dia eu te prendi em rimas
é que eu não sou poeta...
E tive medo de te perder no vento.
Mas, prometo, amor,
na próxima estrofe
eu te deixo voar.