Entre cafés frios e perguntas sem fim,
lá estava ele — o mestre com superpoderes.
Não voava,
mas atravessava olhares desinteressados
como quem decifrasse enigmas em silêncio.
Sabia tudo,
inclusive quando fingíamos
que sabíamos alguma coisa além do TikTok
e das fórmulas coladas na palma da mão.
Ele via o invisível —
as respostas engolidas por inseguranças,
as interrogações escondidas em sorrisos rápidos,
as desistências murmuradas em silêncio.
Mais do que ensinar,
ele nos salvava de nós mesmos.
Como se soubesse que o mundo lá fora
pedia provas que não estavam no currículo.
Como se soubesse que,
no fundo,
ninguém aprende só com palavras,
mas com olhares que não julgam,
e vozes que não desistem.
Ainda hoje,
em prova da vida —
aquelas que chegam sem aviso,
com tempo cronometrado e respostas múltiplas
(todas erradas, aparentemente) —
ainda ouço sua voz dizendo:
“Você consegue. Respira… e vai.”
E eu vou.
Com medo, às vezes.
Com dúvidas, quase sempre.
Mas vou.
Porque aprendi com ele
que coragem não é ter certeza,
é levantar a mão no meio da aula
mesmo sem saber a resposta.
E talvez, só talvez,
o tal superpoder dos mestres
seja esse:
acender faróis nos cantos escuros da gente
e depois sair de fininho,
com uma caneca de café frio,
como quem diz:
\"Agora é com você.\"