Luana Santahelena

Entre Cafés Frios e Superpoderes Invisíveis

Entre cafés frios e perguntas sem fim,

lá estava ele — o mestre com superpoderes.

Não voava,

mas atravessava olhares desinteressados

como quem decifrasse enigmas em silêncio.

Sabia tudo,

inclusive quando fingíamos

que sabíamos alguma coisa além do TikTok

e das fórmulas coladas na palma da mão.

 

Ele via o invisível —

as respostas engolidas por inseguranças,

as interrogações escondidas em sorrisos rápidos,

as desistências murmuradas em silêncio.

 

Mais do que ensinar,

ele nos salvava de nós mesmos.

Como se soubesse que o mundo lá fora

pedia provas que não estavam no currículo.

Como se soubesse que,

no fundo,

ninguém aprende só com palavras,

mas com olhares que não julgam,

e vozes que não desistem.

 

Ainda hoje,

em prova da vida —

aquelas que chegam sem aviso,

com tempo cronometrado e respostas múltiplas

(todas erradas, aparentemente) —

ainda ouço sua voz dizendo:

 

“Você consegue. Respira… e vai.”

 

E eu vou.

Com medo, às vezes.

Com dúvidas, quase sempre.

Mas vou.

Porque aprendi com ele

que coragem não é ter certeza,

é levantar a mão no meio da aula

mesmo sem saber a resposta.

 

E talvez, só talvez,

o tal superpoder dos mestres

seja esse:

acender faróis nos cantos escuros da gente

e depois sair de fininho,

com uma caneca de café frio,

como quem diz:

 

\"Agora é com você.\"