Isabella Vitória

Josué e a Andorinha

Houve outrora, no singular amanhecer de um inverno denso,
um instante em que Josué foi arrancado dos sonhos por um tormento.
Ergueu-se, trêmulo e curioso, guiado pelo rumor que vinha de fora —
até o jardim adormecido.

No chão enrijecido, sob a sombra do orvalho,
encontrou uma andorinha ainda filhote.
Tinha a asa ferida, mas, apesar da dor, cantava.
Cantava o mesmo canto que Josué ouvira na infância —
aquele que ecoava desde o dia em que sua mãe partira.

Naquela manhã distante, haviam-lhe dado também uma andorinha,
presa numa pequena gaiola,
como consolo para a tristeza que voltaria
a cada amanhecer, e amanhecer, e amanhecer...

Josué tornara-se, com o tempo, um homem amargo e só.
Diziam uns que era o peso da velhice;
outros, que a vida lhe havia sido dura demais.
Mas, ao ouvir aquele canto —
a mesma melodia guardada nas brasas da memória —
perguntou-se em silêncio:

“Seria esta minha última esperança?
Veio até mim para cantar meus últimos dias?
Para que eu não morra tão sozinho assim?”

E foi então que cuidou da ave.
Tratou-lhe as feridas, e em troca ganhou dias mais brandos.
Os anos passaram, e cada vazio da velha casa
foi preenchido pelo doce e constante canto da andorinha.

Até que chegou o leito da morte.
Josué pediu que levassem a gaiola junto ao seu caixão.
Disse:

“Se a morte não for tão escura,
talvez eu ainda a ouça cantar.
Mas depois libertem-na — o vento a levará
até outro coração solitário.”

E assim fizeram.
Quando a terra úmida cobriu o corpo de Josué
e as poucas vozes rezaram a última prece,
a andorinha silenciou.
Abriram a gaiola —
mas ela não voou.

Tentaram chamá-la,
mas ela permaneceu ali, onde aprendera a ficar.
Para ela, Josué era o mundo;
a gaiola, o abrigo;
e o canto —
a única liberdade que nunca lhe fora tirada.

Então, sobre o túmulo de Josué,
Ainda em sua pequena gaiola
e, sem alarde, findou-se também.