MEMÓRIA SENTIDA
Surgi das entranhas de uma mulher, que bradava estridente.
E que trazia nas pernas o lúgubre vento se fazendo despedida.
Não era grande nem pequena, tinha as dores que lhe cabia.
Deixou em mim um prenuncio. Erga seu canto no mundo.
Meu primeiro afeto, de passa anel brincava, e mesmo que nunca saiba,
Ao se despedir, deixou-me um jasmim, que ainda trago comigo.
Foi-se para longe, dizem que perto do infinito. Ainda a avisto acanhada,
Colhendo no jardim do sempre, uma flor outrora tingida.
Quem me ensinou as primeiras letras, inclusive o a de saudade,
Disse para eu ir me chovendo amainado, num aguaceiro de vida,
E que era para saber juntar palavras, mesmo quando há partida.
Também já se foi, mora num incerto lugar, firmado entre o tempo e o peito.
No corpo branco e esguio me fiz ser em outros passos.
Era meu primeiro amor consentido e detinha certa nostalgia.
Prometia ficar, quando já se ia, retornava sem anunciação,
Contudo me fez sua morada e nunca mais de lá se foi.
Depois conheci uma moça, que me destinou seus olhos gris.
Então clamei a ela, antes que também se retirasse,
Se a lua cheia chegar, como teus olhos em ternura,
Borda-me entre o céu e a tua boca numa indelével tecitura.
Carlos Daniel Dojja
In Poemas para Crianças Crescidas.