Não tenha medo de seus inimigos.
Eles cumprem seu papel com excelência.
Tenha medo de seus amores —
dos tapas calorosos nas costas,
das mãos oportunamente estendidas.
As coisas mais absurdas, cruéis e doloridas
que já chegaram ao meu ouvido
não foram pronunciadas por inimigos.
Foram ditas por bocas que já me sorriram,
por olhos que juraram ternura,
por abraços que me prometeram abrigo.
São eles — os que te chamam de amigo —
que afinam a lâmina antes do beijo,
que te servem o vinho e esperam o tropeço.
O ódio é honesto.
A falsidade, disfarce de afeto.
E é por isso que hoje caminho só,
com a paz dos que já entenderam:
o perigo mora no abraço.
E o veneno… vem adoçado com amor.