Thomas Vasconcellos Ivanov

Dor do pensamento

Eu odeio esse convívio — que empurra todo mundo pra longe,
pra onde nem os vivos respiram.
Porque tem tanta gente escrota, covarde,
mas de um jeito tão eloquente
que dá raiva.
Dá ódio.

Almas alheias de corações hipócritas,
que gritam uma alegria tão falsa,
tão forçada,
que não vivem — só se exibem.
E talvez nem mereçam a vida que têm.
Mas quem sou eu pra julgar?
Quem sou eu pra dizer o que é certo ou errado?
Aliás... quem sou eu?
Sou sim?
Sou não?
Sou talvez?

Será que o que eu escrevo importa?
Ou é só devaneio de alguém quebrado por dentro?
Será que sou só mais um perdido entre o ódio e a tristeza,
alguém que nunca aprendeu a ser amado?
Alvo de tortura, de doutrinas mentais,
de carinhos falsos, desconhecidos,
numa alma que nunca foi minha?

Será que sou?
Ou serei?
Serei alguém melhor?
Serei alguém que encontra um caminho — qualquer caminho?
Porque desde que nasci,
parece que estou andando em círculos,
tentando entender por quê.

Por que eu penso isso tudo?
Por que eu cheguei aqui?
Ou será que já passei daqui e nem percebi?
Talvez isso tudo seja só loucura
de uma mente que tenta entender,
mas só encontra o fim —
o fim de uma vida supérflua,
de uma pele rasgada
pela raiva, pela tristeza,
pela loucura de se sentir só.

Infeliz.
É essa a palavra.

Porque poucos entendem,
poucos ajudam,
ninguém pergunta direito,
ninguém dá um abraço —
nem um pedido,
nem um dado.

E eu nem sei por que isso existe,
ou por que eu vivo assim.

Só.
Sozinho.
Isolado.

Vivendo uma vida amarga,
porque ninguém quer saber se eu tô bem.
E se pergunta... é só por perguntar.

Porque quem se importa mesmo —
sempre pergunta duas vezes.

E eu volto
pro meu estado branco,
meu nevoeiro de perguntas sem resposta,
tentando entender se importa.
Se minha vida importa.
Se a pergunta importa.
Se alguém —
qualquer um —
se importa.

E até quando eu vou viver essa psicologia errante,
essa esperança que nunca me foi ensinada,
essa dor antiga, repetida, que me faz piorar?

Não sei.
Mas escrevo.
Porque talvez aqui — só aqui —
alguém leia,
e entenda.