Anna Gonçalves

Alívio do esquecimento

Houve um tempo em que pensei e passei a martirizar.. 

                       [Isso não vai passar]

Que eu ia acordar e no pensamento mergulhar,

passar o dia todo, noite adentro a sempre recordar,

e até nos meus sonhos, sem conseguir escapar.

 

Mas essa semana notei, ao descansar meu ser,

que já fazia um tempo sem me deixar entorpecer.

Hoje caiu a ficha

                 [eu tinha conseguido esquecer...]

E um alívio tão enorme me invadiu ao entardecer.

E esquecer não é esquecer do passado, mas aprender e não repetir o mesmo padrão.

A perseguição da mente, e daquela obsessão,

já não me sequestram mais, nem habitam na minha razão.

Após tanta angústia, medo, culpa e o coração aos saltos,

após a ânsia imensa por apagar o passado e os sobressaltos...

 

Cortei os laços e qualquer contato, apaguei tudo, segui, o tempo fez e continua fazendo o seu curso,

e as feridas, antes abertas, fecharam-se com força.

E por um instante, se não falha a lembrança,

Veio meu alto questionamento, uma sutil lembrança...

                  [Tinha algo a mais pra ocupar meu pensamento]

                   [Além daquela sombra, daquele sofrimento?]

Mas o costume e a rotina, o conforto do conhecido,

eram uma cela antiga, uma prisão do sentido.

 

E hoje compreendo, com o coração descoberto

                [Existe mais vida após o esquecimento, existe mais coisas após o caos do seu universo]

E que sempre haverá outros pensamentos, outros mundos e lugares a habitar,

além de uma pessoa, um único lugar na memória minha a frequentar.

 

E que jogar fora a âncora pesada, lidar com aquele sentimento de não pertencer e o ir adiante e ficar o \"mais nada\",

é mais evolutivo, e sempre terá a melhor clareza da sua própria desconexão,

do que viver no limbo, na mesmice infindável, do seu corpo e da sua mente cansada,

de sentimentos passageiros, e até de um desejo insaciável.

 

Viver é a resposta, um verbo brilhante e revigorante,

a forma mais libertadora de deixar pra trás e ser sempre constante.

E o peito, antes pesado e com saudade, agora respira aliviado,

O passado nem se quer virou paisagem... e o presente, sempre trará experiência e uma nova jornada.