Eu amo os dias de chuva.
há um silêncio neles que fala.
como se o céu,
num suspiro lento,
desabasse tudo o que não cabe mais.
Tem dias
em que a chuva pesa —
e cai não só do alto,
mas também de dentro.
são dias em que o coração transborda
e se confunde
com as lágrimas que ninguém vê.
Mas há outros dias
em que ela dança.
leve, fria,
uma gota por vez tocando a pele
como quem acorda um sentimento esquecido.
um arrepio —
não de frio,
mas de lembrança.
E eu fico ali,
me deixando molhar
como quem, por um instante,
se reconcilia com a própria tristeza.