Eu sonhava com paredes cor-de-rosa,
com ursinhos de pelúcia guardando segredos
que só as crianças sabem dizer sem palavras.
Um mural de rostos amados,
distantes como estrelas —
tão perto nos olhos, tão longe nas mãos.
E a cama de casal, vazia,
estendida como um convite
que eu mesma recuso aceitar.
Porque o melhor lugar do mundo
era feito de talvez,
de um dia, de quando eu crescer.
E crescer, descobri, é aprender
que os sonhos têm endereço,
mas nem sempre têm chave.
O tempo passou como quem foge,
levando consigo o rosa das paredes
e deixando o cinza do concreto.
Os ursinhos viraram poeira doce,
memória guardada em caixas
que não ouso abrir.
Hoje meu quarto é real.
Ele existe, sim — quatro paredes, um teto, uma porta.
Mas não é o melhor lugar do mundo.
É apenas o lugar onde eu durmo,
onde acordo sozinha,
onde o silêncio é tão grande
que cabe tudo que não aconteceu.
E me pergunto, com um sorriso torto:
será que o melhor lugar do mundo
é sempre aquele que não construímos?
Ou será que eu, sem perceber,
desenhei um paraíso impossível
só para ter algo bonito a perder?
Talvez o quarto perfeito
nunca tenha sido sobre o espaço,
mas sobre quem eu seria dentro dele.
E eu, que mudei tanto,
não caibo mais no sonho de menina.
Resta apenas a realidade.
E ela, irônica e gentil,
me ensina que o melhor lugar do mundo
talvez seja este:
onde aprendo a viver
mesmo sem paredes cor-de-rosa.