Breno Pitol Trager

Icor

 

 

Sonho traidor não apoia destruir o amor

Pois mesmo em náusea, o vício teme o belo, luas

Tanto quanto o meu pranto hidrata nossas rugas

A dor veste-se em seda, em vinho quão penhor

 

E o barroco levitai ao céu, clama o tailor

Costurai o vosso abismo com as rendas quase nuas

Alfaiataria, para a lúgubre pele autua

Na passarela à cama, o luto é pecador

 

A alma se curva ao espelho com todo o rancor

E beija o rosto oculto nas máscaras cruas

Perfume é veneno, é arte, é Icor

 

No corte exato, a carne é que se faz virtude

Doai esse sangue olímpico ao enfermo tumor

Que o amor, reparado, sangrará em plenitude