Falar de silêncio é algo muito importante — e, ao mesmo tempo, difícil.
Toda vez que eu paro pra falar de silêncio, eu vejo o abismo que eu sou.
E toda vez que o vejo, percebo que vou me salvando através dele.
Quantas vezes a gente questiona o outro sem ter empatia pelo que ele vive — e, às vezes, nem é uma escolha.
Faltam três meses pro ano acabar, e eu já começo a sentir saudade.
O silêncio me faz respirar.
Ao mesmo tempo que ele me cansa, ele também me desafia.
Às vezes, ele atravessa a gente — de um jeito que nem dá pra explicar.
Engraçado como, a cada dia que passa, surge uma nova sensação sobre o meu trabalho.
Hoje foi um dia triste, e tive a certeza de que o meu trabalho leva um pouco das minhas tristezas com ele.
Ainda assim, eu agradeço muito.
Vou sentir falta quando acabar.
E toda vez que eu digo isso, penso: que clichê!
Mas, na verdade, quando a gente se despede de um trabalho — de um ciclo, né? — a gente se despede de muita coisa dentro da gente também.
Às vezes, me pergunto: o que as pessoas sentem quando leem meus textos?
O que está chegando delas até mim?
Será que elas sentem essa avalanche de emoções que a gente sente ao escrever?
Ou será que não sentem nada?
Será que a falta é minha?
Ou será que elas só não querem entrar em contato com as coisas que doem?
Mas aí, de repente, a gente recebe o gesto de alguém que poderia julgar quem sofre — e não julga.
A pessoa encosta a mão em você e diz:
“Posso te fazer um elogio? Muito obrigado. Eu me vejo em você.”
E, na verdade, quem agradece sou eu. Porque é a escrita que me faz ficar viva. Enquanto eu tiver oportunidade, eu vou escrever o melhor que eu puder.