Maicon Rigon

O Furacão que Usa Batom

Ela é cruel.
Sabe o poder que carrega nos olhos —
essa mistura de ternura e veneno,
capaz de acender paixões e silenciar guerras.

Move-se com a leveza do vento,
mas por onde passa,
deixa corações em ruínas,
como cidades após o fogo.

Não promete nada,
e mesmo assim todos acreditam.
Sabe seduzir com o silêncio,
fingir inocência no meio da tempestade,
e sorrir enquanto o mundo desaba a seus pés.

Encanta, domina, despedaça —
tudo em um mesmo gesto.
Não precisa gritar,
seu perfume já faz o estrago.

Ver alguém se arrastar por ela
é o espetáculo que mais aprecia.
Não por maldade —
mas por vaidade,
essa vaidade disfarçada de fragilidade.

Pobre mulher…
refém de si mesma,
presa à armadilha do próprio reflexo,
confundindo poder com amor,
e conquista com abrigo.

Ela é má.
E sabe disso.
Mas ignora o abismo que deixa para trás,
as almas que vagueiam perdidas,
as promessas que o vento leva —
sempre depois que ela parte.

Talvez agora eu compreenda
por que os furacões têm nomes femininos:
porque há mulheres que passam pela vida
como a força da natureza —
belas, indomáveis,
e absolutamente devastadoras.