Arthur Gomes

Meia-Noite

 

Não foi quando dançava sobre a noite de Nova York,  

Quando uma chuva de vinho em gotículas pairou sobre mim.  

Ao amanhecer, secará?  

Ou a meia-noite dominará a eternidade do tempo?  

 

Aqueles lábios encharcados,  

Tão reluzentes,  

Eram bordô,  

Mas a noite é densa demais para os contemplar.  

 

A doçura da solidão consome meu paladar.  

Eu insisto:  

Não criarei lamúrias imensas no meu colchão à noite,  

Guardarei por tempos o seu encontro.  

 

Exagero todas as vezes,  

Seria tão ousado quanto usar lavanda nos anos 50.  

Me casaria com essa cor,  

Enquanto me lançam espinhos no lugar das rosas do casório.  

 

Eu estarei caindo fora esta noite,  

Mas ela não acaba.  

Se eu usar joias em cabarés,  

Serei o pretendente desamparado das suas meia-noites,  

Perdido nos livros de Sherlock Holmes.