Alex Santidarko

A hóstia de névoa e solidão

Um podridão imaginária que flutua, insinuante, envenenando o silêncio com sussurros que são menos que sons, e mais que significados.
 
Mergulhado na tinta negra de uma chuvosa noite, e do obsessivo,como um homem á beira de um delírio tangível e obscuro; assim há o lamento de uma voz que  esvaira-se  em algum lugar de sua respectiva alma.
 
A realidade, essa frágil tapeçaria, desfia-se ao meu redor, e o mundo palpável curva-se perante o reinado do inominável. 
 
É uma fantasmagoria, não de luzes e sombras, mas de pura essência espectro-interstício; um transe situado em uma greta onde o passado morto e o presente agonizante se fundem num único, horrível e eterno agora.
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Como um fantasma de sal, na mente a fluir,
Um transe se ergue, a sonhar e a mentir,
Mais vivo que a vida, na fria amplidão,
É a sombra de um deus de negra lógica em vão.
 
Não vem com semblante ou forma de dor,
Mas com a geometria de um pavor sem rumor,
Onde degraus de sonhos, torcidos, se enovelam,
E as almas, perdidas, em seus ecos, se revelam.
 
É um rio que corre para a nascente do espanto,
Onde o peixe é o medo, de hábito e de pranto,
Onde as árvores, nuas, seus frutos de absinto,
Oferecem ao lábio um prazer já distinto.
 
Oh, que lógica é esta, tão perversa e crua,
Que a verdade esfacela, a mentira arguiu?
Que toma a certeza, esse ídolo de barro,
E a desfaz no vento, num lascivo embaralho?
 
Eu vejo os meus dias, fios de um tear sombrio,
Tecidos por dedos de um frio deus vazio;
Cada esperança, um fio que se rompe e se esgarça,
E o tecido final é uma máscara que baça.
 
E no silêncio vasto, após o delírio findo,
Fica um eco de algo que nunca foi dito,
A lembrança de um abraço que os ossos penetrou,
E uma razão que, desfeita, jamais se ergueu.
 
É a cruel lógica dos sonhos, esse reino de espanto,
Onde somos espectros de nós, em eterno quebranto,
Condenados a vaguear, na paisagem mental,
Sob o domínio do deus-Sal, frio e imortal.
 
 
By Santidarko