conheci a dor num dia qualquer,
do jeito mais banal possível.
não bateu na porta,
só entrou — como se já fosse dela.
carregava o perfume dela.
falava do jeito que ela falava.
por um segundo,
achei que era ela voltando.
mas não era.
era só a falta dela, gritando.
a dor tem esse talento estranho
de reviver o que foi bom
só pra esvaziar depois.
ela tem o toque gelado
e o olhar dela no dia em que partiu.
me deu silêncio onde tinha riso,
espaço demais na cama,
tempo demais no peito.
me fez escrever mensagens que apaguei
e responder perguntas que ninguém fez.
ela — a dor — sabe o nome dela.
me cutuca quando toca aquela música,
me senta ao lado nos lugares onde
costumávamos caber juntos.
e aí eu entendi:
a dor não chegou sozinha.
ela veio porque amou com a mesma força
com que eu amei ela.
descobri, meio na marra,
que a dor conhecia o amor da minha vida.
e só apareceu
porque ela não volta mais.
23 set 2025 (11:09)