Sezar Kosta

O REFÚGIO INVISÍVEL DO AMOR

Quando o mundo fecha as cortinas,

e os corações viram pedras que fingem dormir,

o amor —

esse andarilho sem teto —

descalço e sem nome,

vai se esconder

onde só os atentos conseguem ouvir.

 

Vai morar no ventre da música.

Ali, onde nenhuma dor alcança,

onde cada nota é uma porta entreaberta

e cada pausa

é um suspiro antigo que ainda espera.

 

Esconde-se no lamento de um saxofone à meia-noite,

num piano esquecido que chora sozinho,

na voz rouca de quem canta o que já perdeu,

mas ainda ama.

 

Você não o verá nas manchetes,

nem nos olhos apressados da cidade.

Mas o amor sobrevive —

como um fio de melodia

escapando por uma janela entreaberta,

num apartamento qualquer,

onde alguém dança sozinho

sem saber que está sendo abraçado.

 

Ele se aninha entre os acordes,

feito criança em cobertor de vento,

e ali repousa,

até que o mundo se lembre

de como era

ser inteiro.

 

Porque quando a guerra grita,

a música sussurra.

Quando o tempo rasga,

ela costura.

E quando ninguém mais acredita —

ela canta,

como quem embala o amor ferido

sem perguntar seu nome.

 

A música é o último lugar.

O último abrigo.

O último sopro de beleza

antes que tudo se cale.

 

E quem ouve — de verdade —

não ouve só sons.

Ouve uma história escondida.

Ouve o amor,

ainda vivo,

pedindo apenas

para ficar.