Sezar Kosta

A DOR QUE APRENDI A SEGURAR COM AS MÃOS

Eu a conheci num dia nublado,

não pelo céu — mas pelo olhar.

Tinha sorriso de quem aprendeu a sorrir depois,

não durante.

E as palavras vinham baixas,

como quem teme que a própria voz

acorde um passado adormecido.

 

Ela não pedia amor.

Me oferecia distância em bandeja de prata

e dizia:

\"Não encosta onde dói.\"

 

Mas eu vi —

vi como os olhos dela piscavam mais forte

quando alguém chegava perto demais.

Vi o jeito que ela abraçava com os ombros tensos,

como se cada gesto fosse uma promessa

de que ia ser ferida outra vez.

 

E eu?

Eu não tinha mapa, nem cura,

só vontade.

Vontade de ficar, mesmo quando ela mandava ir.

 

Naquela noite chuvosa,

ela chorou deitada no meu peito,

e o choro não era bonito,

nem cinematográfico —

era cru.

E eu segurei.

Com as mãos nuas, segurei o que doía nela,

como quem segura um caco de vidro

e sangra junto.

 

Beijei-a entre soluços,

não por desejo,

mas porque achei que o toque suave

era a única língua que ela ainda entendia.

 

Demorou.

Como cura lenta.

Como flor que se abre só quando ninguém está olhando.

 

E foi aí que entendi:

amar não é prometer que vai passar —

é estar lá enquanto arde.

É virar abrigo pra tempestade alheia.

É saber que nem sempre se salva,

mas sempre se fica.

 

Hoje, ela ainda carrega cicatrizes,

mas já sorri sem esforço.

E eu…

eu continuo aprendendo a ser ponte

entre a dor e o alívio.

 

Porque às vezes,

amar é isso:

nem sempre ser remédio —

mas sempre ser presença.