Francisco Monteiro

Mundo de um homem só.

Dizem os ventos antigos que, em uma semana perdida no calendário dos homens, um viajante se sentava em sua cadeira, com um papel e uma caneta quebrada. E embora as falhas da tinta parecessem negar-lhe as palavras, era ali que o invisível começava a se revelar.

Um peso apertava-lhe as costas, e um nó guardava-lhe a garganta, mas os sentimentos que fluíam não se perdiam: corriam pelas ruas como rios secretos, buscando o mar que ainda haveria de encontrar.

Ele era como uma estátua de gesso esquecida, mutilada pouco a pouco, até não restar forma, apenas fragmentos que o mundo, indiferente, não se importava em reconhecer.

E, apesar de tudo, permanecia à espera... de algo, ou de alguém, que nem mesmo sabia nomear. Uma esperança sem rosto, mas que ainda ardia, pequena, como brasa escondida sob cinzas.

 

Francisco Monteiro