JUCKLIN CELESTINO FILHO

RECONHECIMENTO.

De repente, no extenso horizonte ,
Assoma o fulgor de um clarão,
E tímido, qual navio soçobrando a medo,
Um raio tateia, e bem cedo
Entre as nuvens se encerra.
Mas num instante,
Num átimo de bravura, ousa dar a cara,
E retumbante escancara:
Há  tantos seres arrogantes e maldosos,
Prepotentes e orgulhosos,
Que transitam pela terra
Em cúmulo de maldades,
Tendo  em lugar do coração --
Uma pedra, e pretensiosos
Vão desfilando suas vaidades
No picadeiro da ilusão!...
II
Pobres iludidas criaturas ,
Luz alguma, suas  mentes ilumina --
Excrescência, das excrescências,
Pensando  tolamente
Serem vetores de grandiosidades,
E que tudo  aos seus redores, circula,
Tendo as pessoas, qual moleque  de picula
Calcadas aos pés,
E o mundo a lhes prestar culto,
Não vendo das brumas obscuras
De suas parcas consciências,
Foco de atrocidades ,
Ao revés,
Divisar um sacrossanto vulto
De tamanha grandeza,
De singular nobreza,
Cujo infinito amor é  correnteza
Que verte água dos olhos,
Qual fonte cristalina,
No  caudal da emoção.
III
Não ouso, ante minha
Pequenez de vivente
Declinar dessa augusta
Pessoa o nome.
Em hipótese alguma o farei.
Isso é algo que a razão
Se  me consome,
Mas não vo- lo    direi .
Nesse ínterim,
Uma voz intrépida,
Com estrondar uivante
Estruge noite afora:
Esse ser sublime,
Cujo amor infindo,
Num gesto lindo
Que somente o coração puro
De Santa exprime,
E que tu bem o fizeste,
Querido raio celeste,
De modo tão impogante --
Chamando-a de sacrossanto vulto,
Não distingue pompas,
Posição social, nem cor,
Pois a todos ama
Com o mesmo penhor.
IV
E eu, o vento errante,
Destemido viajante
Das longínquas plagas
Que desvirgino as matas,
Sacudindo as vagas,
Gemendo pelas fragas,
Encrespando as ondas do mar,
Livre como os versos do poeta,
Imortalizados na voz do estupendo
Agnaldo Timóteo, testemunha sou
Dessa ardente chama
De desvelado amor,
E uníssono entoo agora:
Que é isto que ecoa no ar?
É o grito retumbante
Da Estrela Divina,
Da Santa Peregrina,
Que vive a clamar:
Senhores, a luta é árdua!
O sofrimento dos que
Necessitam ajuda, é atroz!
Vim pedir ajuda a vós,
Para aquele que já não
Sabe sorrir,
Que já não sabe cantar,
Que vive à margem do infortúnio!
V
Somente um coração desgraçado!
Um peito fechado
À caridade, ao amor,
Ficará  indiferente a tanto lamento,
A tanta dor:
Senhora, abre a porta!
Dá-me abrigo!
Eu sei que és amiga do pobre,
Do mendigo!
Vês, eu trago o peito em chagas!...
Já palmilhei diversas plagas
À procura de arrimo:
Bati à porta do rico,
Do político,
Da sumidade!
Que tamanha impiedade!
Ninguém me acolheu!
São corações de pedra!
Túmulo fétido onde a semente
Do amor não medra,
E há muito, tudo de bom feneceu!
VI
Não podemos ficar indiferentes
À dor pungente
Que aflora o peito dessa pobre gente,
Em sua hora de extrema aflição!
Portanto, me ajudem, na difícil
Campanha, em prol do humilde,
E do necessitado – que só têm
De seus – o sofrimento e a resignação!
VII
Irmãos, eu não anseio por glória!
Não quero um castelo  de ouro!
Não quero grandioso tesouro!
Minha maior vitória --
É a vitória do necessitado
Rogando-me auxílio,coitado,
Nas suas horas de tormento,
E eu possa atendê-lo,
Enfim, socorre-lo,
No seu momento
De acerbo sofrimento !
VIII
E assim essa incansável batalhadora,
Trabalha o dia inteiro,
Com inteirado fervor,
Provindo da  ação  arrebatadora
Do seu nobre  coração, do amor --
Desvelado hospedeiro!...
Labora , sem descasar um minuto,
Tendo por tributo –
O reconhecimento de quem
Precisa de ajuda, de uma mão amiga
Para socorrê-lo nas horas mais difíceis.
E sabe que nessa Santa, guarida, tem!
IX
Brademos ao firmamento,
O nome da nossa heroína:
A Estrela Divina,
A Santa Peregrina _--
Irmã Dulce!

Este poema foi composto em 1984. É uma pequena homenagem a quem de fato, foi uma Santa Peregrina. Irmã Dulce merecia o Prêmio Nobel da Paz. Mas ela já o ganhou lá no Céu, junto ao Bom Deus. E somente o Senhor Deus, para reconhecer os grandiosos serviços de uma Santa, que dedicou 40 anos de sua vida, aos pobres, às pessoas que diariamente a ela recorriam.