A morte não é uma porta —
é o espaço entre as paredes do mundo
onde a luz esqueceu seu nome.
Não chega com aviso,
chega com a quietude de um pássaro morto
que ninguém percebe pousar.
Ela sussurra nos cantos da mente,
nas rugas que o tempo deixou,
nos olhos que se cansaram de esperar.
Não há tristeza nem júbilo,
apenas um alinhamento frio das coisas:
o coração, a pele, o corpo —
todos se curvando
para o mesmo silêncio.
E no instante em que nos toca,
o mundo inteiro se recolhe.
O vento para,
as vozes se calam,
e só resta a sensação absurda e bela
de termos sido
um lampejo impossível de repetir.
A morte não é inimiga,
nem mestra —
é apenas a última página
que nos obriga a ler a vida
com mais atenção,
como se cada suspiro fosse uma folha rara
que arde antes de cair.
E talvez, depois de tudo,
o que reste
seja o rastro de nós mesmos,
uma sombra que dança
no eco do nada,
só para que outros saibam
que existimos,
mesmo que por um instante.