Levi F.

No Eco do Nada

A morte não é uma porta —

é o espaço entre as paredes do mundo

onde a luz esqueceu seu nome.

Não chega com aviso,

chega com a quietude de um pássaro morto

que ninguém percebe pousar.

 

Ela sussurra nos cantos da mente,

nas rugas que o tempo deixou,

nos olhos que se cansaram de esperar.

Não há tristeza nem júbilo,

apenas um alinhamento frio das coisas:

o coração, a pele, o corpo —

todos se curvando

para o mesmo silêncio.

 

E no instante em que nos toca,

o mundo inteiro se recolhe.

O vento para,

as vozes se calam,

e só resta a sensação absurda e bela

de termos sido

um lampejo impossível de repetir.

 

A morte não é inimiga,

nem mestra —

é apenas a última página

que nos obriga a ler a vida

com mais atenção,

como se cada suspiro fosse uma folha rara

que arde antes de cair.

 

E talvez, depois de tudo,

o que reste

seja o rastro de nós mesmos,

uma sombra que dança

no eco do nada,

só para que outros saibam

que existimos,

mesmo que por um instante.