Fracassei na tentativa de te ter pra sempre aqui.
Na dor física da tua ausência, morri por dentro aos poucos.
Por fora, insistiram em sobreviver células e poros,
que, por várias noites, se afogaram no suor do teu corpo.
Hoje, revirei os quatro cantos da casa cinza e sem vida,
que um dia já foi o arco-íris dos meus entardeceres,
buscando uma marca dos tempos em que havia vida em mim.
Lembranças e imagens já não eram suficientes.
Ansiava por uma marca física, real, verdadeira:
um fio de cabelo, um perfume esquecido, uma peça de roupa…
Qualquer coisa que me trouxesse a saudosa sensação
de ainda escutar teus passos por entre os cômodos.
Qualquer objeto seria, para mim, uma relíquia.
Mas o tempo não perdoou os restos mortais da nossa história.
A poeira dos dias apagou qualquer possibilidade de nostalgia.
Nada mais restou da vida que jamais temi perdê-la,
e hoje me vejo implorando a Deus uma falha no tempo-espaço,
que, por um descuido, fizesse meus dias retrocederem.
Eu já estava desistindo da minha procura, quase fracassada,
quando, sem querer, vi meu vulto no espelho do roupeiro.
Cheguei mais perto e me autoanalisei de uma maneira profunda.
Vi meu olhar abatido, doente, de quem nada espera mais,
um embrulho de mau gosto da dor escondida por dentro.
Sentei na cama, pensativo, exausto, mas ainda com vida.
Me dei conta de que havia tido sucesso em minha busca:
eu queria uma marca tua e encontrei a maior de todas.
Porque nada traduz tão fielmente a tua passagem por mim,
do que o rastro de destruição que deixaste em minha alma.