Lucas Pereira

O Mar das Lamentações  

O Mar das Lamentações  

 

Navego no mar das minhas indecisões em um pequeno barco prestes a afundar. O socorro não virá, e se vier, nada haverá para salvar. Estou prestes a pular, mas não vejo nenhum lugar seguro. À direita, o abismo das minhas incertezas; à esquerda, o poço das minhas lamentações; e à frente, o túnel da solidão que se encontra, em segredo, com as minhas depressões. 

Grito por socorro e me escondo para que não me vejam, mas, mesmo assim, não há quem possa ouvir os berros e os gritos. Este mar é tão vasto que os meus apelos de desespero desaparecem em meio à escuridão. 

Ah, vida miserável! Que dívida eu fiz contigo para que me cobres um preço tão alto? Ao me olhar no espelho, vejo a existência lastimável de um palhaço, cuja alma implora por salvação, mas cujo corpo se delicia na ilusão de uma felicidade coberta de maquiagem. Ao retirá-la, a dura realidade escancara sua porta, me lançando em um buraco tão escuro que nem a luz divina pode me salvar. 

Entre os prantos de minhas lágrimas de sangue, olho para o pequeno mastro do velho barco, ouço sua voz me chamando. Ao pegar em sua corda, o melhor é contar até cinco. Um, dois, três, quatro e... cinco. 

As lágrimas de sangue se misturam à água do oceano. Não há mais forças, nem para gritar, nem para lutar. A corda do mastro não é um refúgio, é apenas o último elo com a ilusão de que eu poderia ser salvo. Solto a corda, meus dedos se desprendem lentamente, e o peso de tudo o que sou e de tudo o que sinto me puxa para o fundo. O mundo se silencia, e o que antes era um mar de agonia, agora é um abraço frio e profundo. O palhaço, a alma e o corpo, finalmente se encontram em paz na escuridão, onde a maquiagem e a dor não importam mais.