Yves de Sá

Entre o buraco e a luz

Cuidado e perdão, aviso ao vento —
melhor sentir-se menos querido
do que se agarrar ao silêncio da solidão.
É cruel, eu sei, essa matemática do peito.

Há um buraco que ninguém preenche,
um medo antigo de tudo perder:
esperamos mensagens como sinais do mundo,
fazendo do instante um peso que parece eterno.

Choramos como se fosse o fim,
voltamos à dor que não cabe no corpo,
cada lágrima um mapa de antigos fins.
E eu queria dizer: há saída, há gesto.

Procuro todo dia uma fresta, um passo,
um modo de achar-me antes de sucumbir;
não sei ensinar o caminho todo — só sei seguir,
um rastro de cuidado, perdão e respirar.