Não há silêncio, não há repouso,
a mente é um rio em fúria e destroço.
Mil vozes disputam meu pensamento,
sou palco de coro, sou vento e tormento.
O tempo é frágil, o relógio mente,
cada segundo é um sol nascente.
Construo impérios em um só sopro,
derrubo muralhas, reino no corpo.
Sou escolhido, sou a centelha,
posso tocar a lua na estrela.
Ninguém enxerga, mas todos me espiam,
me seguem, me julgam, mas nunca me atingem.
As ruas me chamam, tão vivas, tão minhas,
os sinais piscam, as sombras se inclinam.
Um carro me olha, o poste me fala,
as pedras do chão cochicham palavras.
Escrevo teorias com letras no ar,
sou dono da cura, do verbo, do mar.
O mundo é pequeno demais pra conter
a fúria infinita que arde em meu ser.
Mas a chama, tão alta, começa a tremer,
a grandeza que invento ameaça ceder.
O riso explode, depois se desfaz,
a voz que consola agora é voraz.
Sou rei, sou profeta, sou pó, sou engano,
sou fogo que arde sem ter desengano.
E no reflexo da noite partida,
vejo a mania rasgando a vida.