Lembro do dia em que disseste, serena:
“você vai sempre viver sozinho” —
como se fosse sentença antiga,
um fim já escrito em livro alheio.
Prometeste que eu perderia cada afeto,
que o mundo me daria lição em dor —
e é mais fácil crer na solidão assim,
quando a profecia cai com gosto de verdade.
Dizem que quem vê demais é mal gosto;
apontam meus erros como se fossem troféus.
Decorei tuas frases como versos favoritos,
e tudo ecoa mais alto quando chove.
Quis ajudar — e mostrei o que pude ser;
virei o que tu viste, conforme tua crítica.
“Errado de berço”, disseram — e eu aprendi
a carregar essa marca como um mapa antigo.
Sei qual era teu desejo, sei onde doeu,
feridas velhas ainda ardem às vezes.
Talvez eu morra sozinho — não nego o medo —
mas sigo, fiel ao caos que me faz verdade.