Sexo é repetição.
É descarga elétrica do corpo,
um circuito fechado
que promete transcendência
e devolve apenas o cansaço.
Benefício: prolonga a espécie.
Malefício: prolonga a ilusão.
Não há poesia no atrito de peles,
há biologia: músculos, secreções,
um teatro químico que chamamos de amor.
Os que se exaltam no prazer
esquecem que o mesmo gesto
já foi feito bilhões de vezes antes deles.
Nada novo acontece na cama.
Sexo pode unir,
mas quase sempre separa.
Pode acalmar,
mas cobra juros na forma de vazio.
É fardo porque vicia,
porque torna o homem servo do próprio corpo,
escravo de uma urgência
que nunca se satisfaz.
E no fim,
o benefício e o malefício
se confundem:
vida e desgaste,
nascimento e decadência,
a mesma faca,
o mesmo corte.