Demorei a entender
que o amor não se escreve
com as palavras que eu conhecia.
Busquei nos rostos calmos
a promessa de paz,
e me perdi nas superfícies lisas
de quem nunca ousou ser inteiro.
Até que teus olhos —
não tão serenos,
não tão fáceis —
me ensinaram o avesso.
Foi no café derramado
e no silêncio após o desentendimento
que aprendi a te escutar
com o corpo inteiro.
Nas tuas pausas,
vi que havia tempestades contidas.
Nos teus gestos tortos,
entendi memórias que doem
sem anunciar.
Amar-te não era decifrar,
era aceitar que há páginas
que não se leem com pressa.
Compreender não é resignar-se —
é mergulhar.
É saber que toda alma é feita
de pontes quebradas
e jardins por desabrochar.
Foi quando parei de te exigir calmaria
que percebi a beleza
do teu mar revolto.
Compreender é abrir espaço:
não para mudar o outro,
mas para permitir
que ele exista inteiro.
É escutar o que não foi dito.
É acolher a dor que não é nossa,
mas que também pede colo.
Hoje, teu olhar é abrigo.
Não porque nunca muda,
mas porque permanece
mesmo nas ausências.
Te compreender foi deixar de lado a chave
e simplesmente
sentar diante da porta.
E ali,
na soleira entre teu mundo e o meu,
descobri que amar
é aprender a ser porto
sem exigir chegada.
Dedicado ao Dia da Compreensão Mundial
Neste dia, celebramos não a certeza,
mas a escuta.
Não o controle,
mas o cuidado.
Que sejamos porto uns dos outros —
não para ancorar,
mas para permitir
que o outro também navegue.