Sezar Kosta

O PORTO DE COMPREENSÃO DO CORAÇÃO

Demorei a entender

que o amor não se escreve

com as palavras que eu conhecia.

 

Busquei nos rostos calmos

a promessa de paz,

e me perdi nas superfícies lisas

de quem nunca ousou ser inteiro.

 

Até que teus olhos —

não tão serenos,

não tão fáceis —

me ensinaram o avesso.

 

Foi no café derramado

e no silêncio após o desentendimento

que aprendi a te escutar

com o corpo inteiro.

 

Nas tuas pausas,

vi que havia tempestades contidas.

Nos teus gestos tortos,

entendi memórias que doem

sem anunciar.

 

Amar-te não era decifrar,

era aceitar que há páginas

que não se leem com pressa.

 

Compreender não é resignar-se —

é mergulhar.

É saber que toda alma é feita

de pontes quebradas

e jardins por desabrochar.

 

Foi quando parei de te exigir calmaria

que percebi a beleza

do teu mar revolto.

 

Compreender é abrir espaço:

não para mudar o outro,

mas para permitir

que ele exista inteiro.

 

É escutar o que não foi dito.

É acolher a dor que não é nossa,

mas que também pede colo.

 

Hoje, teu olhar é abrigo.

Não porque nunca muda,

mas porque permanece

mesmo nas ausências.

 

Te compreender foi deixar de lado a chave

e simplesmente

sentar diante da porta.

 

E ali,

na soleira entre teu mundo e o meu,

descobri que amar

é aprender a ser porto

sem exigir chegada.

 

 

Dedicado ao Dia da Compreensão Mundial

 

Neste dia, celebramos não a certeza,

mas a escuta.

Não o controle,

mas o cuidado.

Que sejamos porto uns dos outros —

não para ancorar,

mas para permitir

que o outro também navegue.