Cá estou eu, com minhas trinta primaveras,
e ainda cometo o maior atrevimento possível:
deixar a vida para depois.
Ainda quero um fim de semana inteiro sozinho,
ouvindo música clássica,
escrevendo sobre o peso e a leveza de existir.
Mas isso pode esperar.
Ainda quero acampar à beira de um rio,
com duas garrafas de vinho barato
e o silêncio como companhia.
Mas isso pode esperar.
Ainda quero andar descalço sobre um gramado,
num domingo ensolarado,
sentindo a brisa tocar a pele,
o passado me puxando,
e o futuro, leve, me chamando.
Mas isso também pode esperar.
Ainda quero contemplar uma paisagem,
conversar com Deus no silêncio de um nascer de sol,
chorar minha raiva pelas perdas,
e agradecer, em pranto, pelos presentes.
Mas isso, quem sabe, também pode esperar.
Só espero, de coração,
que esse esperar nunca me seja negado,
mesmo quando o tempo se esgotar,
mesmo quando não houver mais esperas —
apenas o silêncio do que ficou por viver.