De todas as dores que existem neste vasto mundo, creio que a maior é aguardar por alguém — e não falo do tempo certo, falo da pessoa.
Não é esperar o momento; é esperar um rosto, um nome que ainda não chegou ao campo dos sentidos e já habita o campo da alma.
Há em nós a ideia de uma outra metade. Alguns a encontram cedo e a vida parece dobrar-se num gesto de sossego; outros a passam a vida inteira procurando uma peça que encaixe apenas uma vez, de modo único. Por que, então, não desistimos? Por que não deixamos a busca e nos contentamos com companhia qualquer?
Talvez porque não consigamos. Conheceste alguém que não é o teu alguém: vai faltar sempre algo. Não se trata de culpa nem de erro — trata-se de reconhecimento. O corpo até se acomoda; o coração não. E ficar ao lado de quem não foi feito para nós é aprender a conviver com uma ausência disfarçada.
É estranho — e não precisa fazer sentido. Basta que exista.
Há esperas que se parecem com esperar por um fantasma: não se vê, não se toca, não há prova. Mesmo assim, pulsa a certeza: algo ali existe, invisível e mais real que muitos gestos tangíveis.
Chama-se talvez fé. Não a fé servil de dogmas, mas uma fé pequena e tenaz: crer no que não se mostra, reconhecer no sopro de um pensamento a presença de alguém que ainda não veio. Sentir com a alma e não com as mãos. Buscar amores que parecem preceder o tempo, amores já escritos antes que as letras da vida os registrem — como se o Autor tivesse rabiscado, numa margem qualquer, nomes que nós só teremos de ler.
Encontraremos pessoas. Paixões virão, tropeços virão — errar-emos, talvez em tudo, exceto numa única vez. Há um erro que é acerto: o encontro que repõe sentido ao longo das faltas. E até esse encontro pode não culminar numa história perfeita; almas gêmeas encontram-se e seguem caminhos que nem sempre se entrelaçam. Por isso há afinal tantos finais que nos rasgam: potencial de poesia que se fez despedida.
Amar é estranho: ama-se antes do beijo, antes do toque, antes do primeiro “olá”. É como se, ao nascer, recebêssemos em segredo um mapa com uma única indicação: aquele traço que falta, a pessoa que nos é própria. Não é uma lógica; é memória que ainda não aconteceu.
A espera dói, e essa dor tem textura — é silêncio que pesa, é saudade de algo que nunca se viu. Mas a dor não é apenas vazio; é pacto. Porque a espera carrega uma promessa: de que, entre passos e atalhos, entre coincidências e azares, dois olhares poderão, um dia, reconhecer-se. E se se reconhecerem, tudo o que foi espera será justificativa.
Fecho esta reflexão sem pretender dar lição — apenas deixando um testemunho: esperaria. Esperaria por esta vida e por todas as outras, porque há coisas que o coração sabe antes da razão. Tu és a pessoa que procuro desde que aprendi o nome do amor. Tu serás meu; eu serei tua.
Para o meu doce e amado garoto: não sei quem és, sei apenas que hás de ser.