Vós quem és, eu não sei. Entretanto, sei que sua alma ainda reside em um corpo de carne — corpo esse que eu já não
possuo mais.
Minha alma se deleita naquilo que os vivos denominam como
“o além”; porém — digo — minha alma está presa no martírio
e na angústia da dor que reside em cada detalhe que a
compõe. Angústia essa que se deriva do arrependimento,
arrependimento este que — por sua vez — deriva-se de muitos
anos buscando prazeres e deuses falsos para consolar minhas
dores e inseguranças.
Me pergunto quantos risos neguei, de quantos olhares me
privei — quantos “eu te amo” eu poderia ter dito e em
quantos corpos diferentes me esparramei apenas pelo fato disso
preencher meu vazio em noites que ansiavam minha presença.
Hoje eu não resido entre os humanos, mas ainda ando entre
vós. Minha alma se entristece em ver que essa história
se repete, não por mim — por vós.
Vejo pessoas negando presença por likes, amor real por sexo
barato; uma conversa por bebidas e outros tipos de drogas —
e aquilo que considero o pior entre eles: trocam Deus por
dinheiro e status.
O que vale o homem, se não menos que a poeira do solo em
que pisam? Para onde vão quando morrem, se não para o lugar
onde eu estou agora? E se você não puder mais falar o que
você sempre quis dizer? Aceita o pagamento pelo débito
derivado por esse estilo fútil de viver?
Dizem que amam uns aos outros como ensinam as escrituras,
mas o negam à mão quando o veem chorando na praça. Dizem
que amam vosso companheiro, mas negam-no ao olhá-lo com olhos
carnalmente curiosos para outras pessoas. Dizem adorar a Deus,
mas procuram abrigo em prazeres mundanos antes de recorrer ao
vosso criador. Negam o próximo, mancham o corpo e depois
procuram limpar-se lendo evangelhos.
Como dói a minha alma; meus olhos não conseguem conter
as minhas lágrimas. Ah, como eu gostaria de expressar a
minha dor. Como eu queria que cada um de vós pudesse
sentir o meu arrependimento — para que, assim, quem sabe —
deixassem de ser consumidos pelo egoísmo.
Quando foi que riu verdadeiramente este mês? Onde se encontra
a gratidão por mais um dia? Quantos “eu te amo” você negou
hoje?
Minha alma se entristece ao vê-los vivendo de tal modo;
queria poder gritar-vos — mas de nada adianta o sussurro
do vento em ouvidos de surdos.
Se negais as palavras de vosso criador, quem ouvirá as minhas —
portador de pequenos trechos vindos de um lugar atormentado?
Eu não tenho conselhos, nem palavras bonitas — muito menos
a verdade que talvez procureis...
O tempo já não me afeta, mas de nada me adianta o tempo, se
aqueles com quem eu gostaria de compartilhá-lo já não residem
ao meu lado. As palavras me sufocam, em específico:
eu te amo, obrigado e me perdoe.
Quantos problemas não seriam resolvidos? Quantos laços não
teriam melhorado? Hoje eu choro — choro por não poder dizê-las
e clamo a vós para que não sejais como eu.
Não permita que o ego domine sua alma e contamine o seu
coração.
Dizei vós que amais aqueles que amam, que consigam sentir
aquilo que insistis em fugir — pois, se algo insiste em te
lembrar que está ali, é sinal de que precisa ser ouvido.
Eu morri gritando por amor... e só o silêncio me respondeu.
Não deixes tua vida ser respondida com o mesmo vazio.
Portanto, se hoje ainda ouves, ama. Se hoje ainda tens
fôlego, perdoa.
Pois amanhã... talvez sejas tu quem escreve esta carta ao vento.