Acordei com fome de nós,
de um prato que não se encontra em cardápio,
feito à mão, com o sal da saudade
e o fogo brando do tempo.
Misturei duas xícaras de confiança,
peneiradas com cuidado, sem grumos de dúvida.
Adicionei paciência — colher generosa,
daquela que não azeda com os dias.
Cortei o afeto em cubos pequenos,
para render em cada gesto,
e joguei um punhado de risos
como quem tempera a alma com leveza.
Três pitadas de silêncio confortável,
onde o amor repousa sem pressa.
Olhares a gosto —
porque há sabores que só os olhos revelam.
Deixei cozinhar em fogo baixo,
pois o amor cru fere,
e o apressado não sente o perfume
que só o tempo revela.
Cuidado com o ciúme — não deixe ferver.
Ele amarga até o mais doce dos beijos.
E não mexa demais nas inseguranças:
elas talham o carinho como leite esquecido.
Decorei com planos entrelaçados,
sonhos servidos em louça de esperança.
E se sobrar, guarde em potes de memória:
conservam melhor que qualquer geladeira.
Minha amada,
se um dia duvidar do sabor que temos,
lembre-se: não há receita infalível,
mas há mãos que sabem cozinhar juntas.
E as nossas, mesmo entre tropeços e improvisos,
sempre voltam ao fogão do afeto,
onde o amor é prato principal
e o tempero — eternamente nosso.