Duda Feronatto

o vendaval de um marinheiro

 


O Vendaval de um Marinheiro

No ventre do mar, onde o mundo se desfaz,
Um barco vagueia, sem rumo, sem paz.
Lá dentro, um homem, de olhar apagado,
Carrega tormentas num peito cansado.

O céu desabava num grito sem fim,
Trovões como vozes que falam de mim.
O vento, cruel, rasgava a razão,
E o medo fazia do peito um furacão.

As ondas gritavam verdades caladas,
E as velas, rasgadas, eram suas palavras.
Sozinho no leme, perdido em si mesmo,
Um marinheiro afundava em abismo.

A ansiedade rugia em forma de mar,
A depressão vinha sem avisar.
O sal dos seus olhos, que ninguém via,
Misturava-se à água da maresia.

Mas eis que no caos, um fio de luar
Rompeu as nuvens pra o guiar.
Uma brisa sutil tocou sua mão,
Como um sopro de vida, ou de oração.

O tempo passou, o mar serenou,
A noite escura enfim clareou.
E o homem, ainda cansado, chorou —
Mas dessa vez, porque não afundou.

O barco seguiu, com velas ao sol,
E o coração, antes nó, virou lençol.
Ainda há ventos, mas não mais temor:
O marinheiro conhece seu próprio valor.