Acho que ando temendo a vida,
ela chega como um vento frio,
soprando a lembrança
de que tudo pode se desfazer.
Não é medo das coisas,
é medo das pessoas,
da ausência que pesa mais
do que qualquer silêncio.
Medo de perder minha mãe,
minha irmã,
de chorar de novo
pelas perdas que já me arrancaram.
E ecoa em mim aquela frase:
tudo que eu tinha medo de perder, eu perdi.
Perdi sonhos
como folhas levadas pela correnteza,
perdi a infância
no relógio apressado dos dias,
perdi horas, minutos, segundos,
como quem deixa escorrer água
entre os dedos.
Perdi o tempo,
perdi memórias.
E guardo ainda um temor secreto:
que no fim,
entre tantas perdas,
eu acabe por perder a mim.