Maicon Rigon

Poeta invisível

Sem o drama do desamparo, por favor,
Nem os egos inchados de quem se acha demais,
Apenas decidi falar sobre os poetas
Mas não sobre os grandes nomes,
Os ovacionados, os reverenciados,
Aqueles que, até depois de mortos, ganham ruas, praças e monumentos.

Falo dos que, como eu,
Nunca verão suas palavras imortalizadas em papel,
Nunca terão um busto em praça pública,
Nem uma biblioteca com seu nome grifado na fachada.

Falo dos que, como eu,
São quase analfabetos em sua essência.
Não li o bastante, nunca fui um erudito.
Aprendi apenas a arranjar palavras,
Ajustando-as de modo que se amassem num formato
Que me fosse, ao menos, satisfatório.

Satisfatório, ao menos para mim,
Porque quando a escrita não espera aplausos,
Aglutina-se um mérito mais puro.
Quando escrevo para os outros, escrevo por eles.
Quando escrevo para mim, ah, isso sim, é mais verdadeiro.

Antigamente, as pessoas tinham diários secretos,
Escondidos em gavetas, sem a intenção de serem achados.
Hoje, meu diário é este campo digital,
Recheado de palavras atiradas ao vento,
Um cemitério de pensamentos esquecidos.

Não espero que uma mulher atraente leia
E me convide para o altar no dia seguinte.
Nem que ela tatue meu nome, sem pensar,
Na parte de trás do corpo,
Onde os segredos se escondem.

Não espero ser citado em discursos fúnebres,
Ou que meu nome brilhe em obituários
Com tiragens limitadas a 1000 exemplares.
E tampouco espero que meus versos se tornem
Aquelas frases tolas que ganham likes em feeds vazios.

O que espero,
É que essas palavras, ao se descerem de mim,
Levassem com elas, ao menos um pouco
Do peso que a vida me impôs,
E que, em sua travessia,
Deixassem suas aflições
Em qualquer outro lugar
Que não dentro de mim.