marsel serrao

O dramaturgo

Já é tempo para vir com o primeiro ato. E já! Sem mais delongas ou sem rodopios

Cabe a quem dar o primeiro passo, se com estas mãos de vento reluto em dar caminho?

Passa-se a nuvem pelo céu que se enreda, o raio de sol que trespassa pela aguda janela

Da mente dolorida jorra a grotesca matéria, que de vez em vez, rara talvez, uma cena se expressa.

Estava impaciente, o tempo logo rugiu, e o inverno tomou parte no pesar da cabeça

“Traga-me um cigarro.” Gritou o homem baixo, “traga-me o drama antes que me esqueça.”

Tão vil sou de amor, quanto o pudor de vã arte, sedento de nada, como o sol morno que parte

A prisão das prisões, sem paredes, cruel cárcere, uma fagulha de luz, já um grande contraste.

Lá criam-se os personagens, como criam-se os medos, estes meus amigos fiéis

São os mesmos dramaturgos como você e eu, que perambulam e vivem em um mundo de revés

Todos os meus maiores amores e os meus maiores desastres, só existiram em minha instável mente

Se são contos ternos de fadas ou se são a mais pura lavagem, somente de quem os lê depende.