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Verso e prosa

Verso e Prosa

 

O que sou eu

Além destes versos e prosas,

Deste horizonte

Que começa nos sonhos

E termina no sempre?

 

Sou a que canta nas ruas

E ninguém ouve.

A que se cerca de nuvens

Quando o vento uiva

E a realidade é dura demais.

 

Sou as lembranças mais tenras,

Sou a filha da minha mãe.

Por vezes, sou profunda como o oceano,

Outras, rasa como poças d’água.

Sou como um elefante sem asas,

Um rio sem curso definido,

As estações do ano trocadas.

Sou o tudo e o nada,

O devaneio e a calma,

O grito mudo que ressoa

Quando o mundo dorme

E recomeçam as estações do ano.

 

Sou eu, e apenas eu:

Reflexo no espelho quebrado,

Uma enorme colcha de retalhos,

Presente cheio de passado,

Porque o futuro é misterioso demais.

Sou as memórias verdes guardadas nas gavetas,

Os segredos espalhados aos quatro cantos,

A solitude que alegra,

As mãos que se apertam,

A vida que, no fundo,

É uma grande e inesgotável quimera.