Nalva Melo

Brasil, Face Oculta

Paredes pichadas, becos estreitos,  
Casas amontoadas, campos de barro,  
Florestas ao redor, crianças descalças  
Empinando pipas — lá ninguém usa paletó.

Vielas estreitas, vias cruzadas,  
Comunidade, rapaziada,  
Famílias de bem —  
Mas se a nobreza retrata,  
A tela exibe a pobreza.

Precisa:  
De quem olha?  
De quem cuide?  
De quem o recrie?

Oh! Brasil, tu que és nobre e sutil,  
Mostras tuas calçadas, tuas ilhas,  
Esnobes teus prédios altos, teus pomares,  
Tuas praças requisitadas, teus faróis,  
Teus arquipélagos e monumentos importantes.

Ah! Brasil, tu que escondes essa face,  
Aos teus olhos, não tão importante —  
Isso é repugnante.

 Fala, oh Brasil, das estradas de lama,  
Dos rios impactados, das palafitas em meio aos lagos,  
Daqueles que gritam:  
\"Quero dignidade! Sou cidadão!\"  
Ainda que com os pés descalços,  
Carrego-te no coração.