Geovanna Zara Monteiro

Saudade

remorso inalditível e omitido

saudade entrelaçada na alma

cadeado da corrente que cumprimi 

cada

batida

débil e enferma

do coração sangrento e roxo.

falta que fecha os pulmões e a garganta

submerge os órgãos com sangue e morte

entorpece a mente com a dor

engana os olhos com falsas miragens

imaginação fértil e viril

manhosa e venenosa

desapiedosa e

maldita.

 

afogada no passado eu delato meu futuro

como condenação vitalícia 

de não ter te valorizado enquanto tive

e claro

pelo ódio que sinto

da segunda pessoa

que já beijou em toda a sua vida

a sua boca.

Se mesmo você cultuou 

tanto como disse

a fusão imaterial pela primeira 

que já beijou em toda a sua vida 

a sua boca,

por que você levaria a segunda pra sua cama?

por que faria isso comigo, querido?

 

cada linha desse poema é lido e escrito 

com 1000 inspirações abafadiças 

e 1000 expirações à vácuo 

o ar escapa dos pulmões com pressa

por conta da pressão 

de não haver lugar para elas ali

a não ser a dor.

a pressão de não suportar a vida 

enquanto a mente é saudosa e doente.

sobretudo 

saudosa à sua doença.

 

dor ao respirar, dor ao lembrar

dor ao viver sem esquecer.

ao ainda conviver,

sem se ter,

sem se ver, 

e se percebendo;

sem se tocar,

e se rasgando;

sentindo falta,

e repudiando;

amando,

e nos culminando

com toda carniça 

que uma traição oculta pode ser.

Torcendo o tronco da alma 

com o que pode não ser.

Quebrando sozinha meus ossos

com o que você se convence sozinho

do que nunca ser.

 

comendo tudo o que não disse;

te amando infinitamente

amargamente.

sendo sugada pra dentro de mim 

eternamente.

eu te amo eternamente.